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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A cidade dos livros

 

Qualquer coisa estranha à janela

olho as árvores imaginadas

por um miúdo em calções

olho-lhe os braços suspensos no cacimbo

e ele acena-me com um sorriso ténue

antes de adormecer a tarde

 

e enquanto me acena

vai imaginando árvores enormes quase a tocarem o céu

árvores que rompem a montanha

árvores que alguém esqueceu

num jardim de aldeia

ou perdidas numa cidade

sem janelas

sem portas

sem casas

uma cidade construída em papel

e com muitas palavras

a cidade dos livros

 

a cidade dos livros

com gajas poeticamente desejadas

e poeticamente amadas

como as flores dos jardins de Belém

 

uma cidade sem cigarros

 e sem rimas

e todas as personagens

 

coisas estranhas à janela.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

desesperadamente dentro de um copo de água

 

um copo de água

desesperadamente

de água

desesperadamente dentro do círculo

de água

desesperadamente o círculo dentro do quadrado

a noite

desesperadamente dentro do copo de água

 

um copo de água

onde descansam as flores

das tuas mamas

a noite

desesperadamente

 

desesperadamente a noite

quando baloiça nos teus lábios

o desespero da boca

nos beijos

desesperadamente da noite

 

um copo de água

dentro do círculo

o círculo desesperadamente dentro do quadrado

desesperadamente

o círculo desesperadamente dentro do quadrado desesperadamente dentro da noite.

sábado, 16 de março de 2024

Dizer-te

Dizer-te que sou um fantoche

dizer-te que sou um fraco que sou um covarde

dizer-te que sou um mendigo

um sem-abrigo

dizer-te que te quero

dizer-te que te odeio

dizer-te

 

Dizer-te que é quase Primavera

dizer-te que tu me dizes que não te interessa

dizer-te que és um livro de poesia

poisado sobre a mesinha-de-cabeceira da noite

 

Dizer-te que amanhã não haverá manhã

dizer-te que esta noite vou vestir-me de pequeno desejo

e acreditar

que me desejes.

 

 

(Francisco)