quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A cidade dos livros

 

Qualquer coisa estranha à janela

olho as árvores imaginadas

por um miúdo em calções

olho-lhe os braços suspensos no cacimbo

e ele acena-me com um sorriso ténue

antes de adormecer a tarde

 

e enquanto me acena

vai imaginando árvores enormes quase a tocarem o céu

árvores que rompem a montanha

árvores que alguém esqueceu

num jardim de aldeia

ou perdidas numa cidade

sem janelas

sem portas

sem casas

uma cidade construída em papel

e com muitas palavras

a cidade dos livros

 

a cidade dos livros

com gajas poeticamente desejadas

e poeticamente amadas

como as flores dos jardins de Belém

 

uma cidade sem cigarros

 e sem rimas

e todas as personagens

 

coisas estranhas à janela.

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