O crocodilo de madeira
com alma de pássaro
trazendo nos dentes de marfim
as orquídeas melancólicas da noite
os livros de palha
com letras de néon
e o intenso cheiro a sexo barato
que a vida artística e nocturna
transforma em prazer
navegar como um marinheiro
de bebedeira em bebedeira
caminhando sobre a falsidade dos dias de
fingir
até descobrir na voz das gaivotas o cio da
maré
fugir da vida
e de todas as coisas belas
(odeio o belo)
e não regressar
ao deserto de amar
nunca mais
tristes
tristes os dias sem os livros invisíveis
que poisam sobre a claridade crepuscular
dos olhos do amor
não regressa o comboio com destino a Paris
e as luzes longínquas do silêncio
e flores de perfume incenso
inutilmente desfazem-se em poeira cor de
amêndoa
nunca mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário