Despeço-me de mim,
despeço-me das coisas simples, despeço-me de todo o silêncio que construí,
Despeço-me deste cansaço,
despeço-me deste esqueleto que transporto…
E do último abraço,
Às vezes, às vezes pareço
o meu pai…
(no final da doença)
Que me questionava
Se era de dia
Se era de noite,
Depois dizia…
Sabes filho, já nem sei
se é dia…
Já nem sei se é noite…
Tanto faz
Dizia-lhe eu,
Despeço-me das sílabas
que lancei ao mar,
Despeço-me das palavras
que escrevo…
Das palavras que escrevi…
Dos rabiscos
Da chuva,
Despeço-me das primeiras
luzes da manhã,
Despeço-me da última
estrela que me olhou…
E se esconde dentro de um
círculo de luz com olhos verdes,
Despeço-me da solidão,
Ela despede-se de mim…
Trocamos um abraço,
Gravamos os nossos nomes
dentro do nosso coração…
E partimos para esta
invisível viagem,
Despeço-me da poesia,
Do dia,
Da noite,
Quando quase sempre a
noite despede-se de mim,
Despeço-me da geometria,
De Deus,
E novamente,
Da poesia,
Que morra a poesia e este
poema de “merda”,
Despeço-me da Terra e do
mar,
E do mar e da Terra,
Despeço-me em silêncio,
Dos barcos da minha
infância,
Despeço-me…
Sem saber o que é a
despedida.
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