quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Poema em cio

 

Desesperadamente

as minhas palavras

coladas no vidro da morte

em pedacinhos amargos

a boca do poema

em cio

mergulha ele dentro do silêncio

no desejo dos barcos entre as estrelas de papel

e a noite de fingir

assisto ao fim da noite

quando das vaginais madrugadas

ouvem-se os uivos das acácias em flor

 

desesperadamente

as minhas palavras

nos meus pequenos desejos de silêncio amargo

caminhar dentro do mar

antes de acordar o pôr-do-sol

 

dos vidros da morte

as minhas mãos em crustáceos de glicerina

os cogumelos da vaidade em sombras sibilas

e a laranja do amor

aos poemas loucos

as migalhas do aço inoxidável

nos olhos do deus do cio

desesperadamente

 

(Desesperadamente

as minhas palavras

coladas no vidro da morte)

 

e a morte vive no meu corpo

desde o dia que acordei poema em cio

e todas as janelas da poesia não tinham visibilidade para o mar

e todos os barcos

e todos os barcos ouviam-se dentro das estrelas de papel...

Mar do inferno

 

A não ser as cabeças que me olham

e não sabem que eu sou uma flor

e vivo submersa no mar do inferno...

nada de novo a acrescentar;

fotocópias do dia de ontem

pássaros atabalhoados

na claridade do prazer,

nada de novo a acrescentar,

a não ser as cabeças que me olham

e não sabem

e nunca vão saber que eu sou uma flor

e vivo submersa no mar do inferno....

 

E já só faltam 161 visitas para

 

As

 

150.000

 

O visitante 150.000 ganhará um automóvel eléctrico e um livro de poemas

 

se o sol fosse um pedaço dos teus olhos, se a lua fosse a alegria, dos teus lábios,

se a maré fosse o teu cabelo

 

abraçando o tão desejado silêncio

se hoje fosse já o amanhã

sem que a noite soubesse

porque choram as acácias

 

se este rio

fosse o teu corpo

curvilíneo na minhas mãos,

em busca do mar,

 

tu, eras a manhã!

Raiz quadrada

 

Às vezes, penso, penso em como será a derivada do teu olhar

Às vezes, penso

Penso em como será a liberdade dos teus lábios,

Ou a integral tripla de superfície do teu cabelo.

 

Às vezes, penso…

Penso em como será a raiz quadrada dos teus beijos,

Às vezes, às vezes, penso,

Penso em como será resolver a equação diferencial das tuas mãos…

Isto é, se algum dia eu for capaz de resolver a equação diferencial das tuas mãos.

 

Ofereço-te esta flor. Mas tu, já és uma flor, és a flor-manhã que habita no meu jardim de insónia.

O fogo, é o dono da tarde, a piscina silencia-se numa razão de três por quatro,

desce,

emerge o rio do saber,

quando

quase nada sabe.

 

Ofereço-te esta flor, minha flor

tarde de inveja nas mãos do silêncio, uma palavra cessa de respirar, uma mulher

transforma-se em flor,

em caule sonolento, disperso sobre a mesa da cozinha.

E depois, a flor, da flor, nos olhos de uma outra flor,

invento-te.

 

Na flor.

Cais do amor

 

Um dia vou esquecer-me das palavras

um dia os livros deixarão de me olhar

como todos os dias

nasce a luz em finíssimos fios de neblina

 

um dia a espada da morte

entra no meu peito

e deixo de ouvir a musicalidade das manhãs

um dia os livros

esquecerei os centímetros de solidão

e os milímetros de desejo

 

sem perceber que um dia

as palavras

um dia dos livros

 

os lábios doces da Lua apaixonada

viverei desacorrentado

sentado

esperando por ti no cais do amor...