terça-feira, 13 de agosto de 2024

 

Um cão late na rua.

Quanto a mim, não sei o que faço dentro deste espaço exíguo, poeirento, sonolento,

Quanto a mim,

Desejo vaguear sobre o mar, descalço, quanto a mim, apenas ser aquilo que sempre quis ser,

Digamos que nunca quis ser nada,

Excepto, caminhante.

Escrevendo em cada latitude por onde passo.

 

esta noite

apaguei-me das redes sociais, apaguei-me dos blogues que tinha,

falta-me agora apagar

do emprego

e da casa onde vivo.

depois, sim, caminharei sobre o silêncio da manhã

esquecendo o medo de ser aquilo

que sempre quis ser;

ser nada.

quanto a este blogue, até logo, decidirei; apagá-lo ou ficar privado para sempre.

depois pela manhã, consultei o horóscopo, e sim, que hoje vai ser um bom dia; mais um dia de merda.


 

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Pego neste pedaço de nada,

Que não é nada,

É apenas o vazio,

O vazio travestido

De madrugada,

Ou a madrugada fingindo

Que também ela,

Não é nada.

 

Pego neste pedaço de nada,

Que podia ser uma outra coisa qualquer, sempre melhor de que anda,

E a verdade,

A verdade é que desconheço o nome deste pedaço de nada…

Vamos apelidá-lo de Lua,

De sorriso no rosto,

Pincelando os lábios de luar…

E nas horas mortas, escreve poesia no sorriso do Sol.

 

Pego neste pedaço de nada,

Que quase confundo com tudo,

Melhor de que nada,

E percebo que na rua lateral, junto ao rio,

Um pedaço de tudo,

Um pedaço de tudo me espera.

 

Que farei quando tudo arde?

Leio o poema de Sá de Miranda, com o mesmo nome,

Nada, apenas pedaços de nada,

Li há muito Lobo Antunes, com o mesmo nome,

E tal como Sá de Miranda,

Nada.

 

Quando tudo arde

E apenas temos um pedacinho de nada,

É deixar arder,

E das cinzas,

Talvez acorde um pedaço de tudo.

domingo, 11 de agosto de 2024

 

Peço à noite

Que deixe cair o luar nos teus lábios

E que às estrelas do teu olhar

As guarde junto ao peito,

 

Peço à noite

Que seja sempre a noite

Da noite que nos esconde

À noite de quando sentados junto ao rio…

 

E digo à noite

Que nos proteja de todas as noites

Das noites de poesia

Às noites em desejo.

sábado, 10 de agosto de 2024

 

Nada tenho para te oferecer

Mas pensando bem

O que poderia eu oferecer-te

Se já tudo tens…

 

Não me importo

Por nada ter para oferecer

Não me importo que apenas exista dentro de mim

Sombras

Poucas coisas

Idiotices

Palermices.

 

Nada tenho para te oferecer

E no entanto

Não me sinto diminuído

Ou triste

Ou…

Nada

Nada tenho para te oferecer.

 

Mas se eu tivesse alguma coisa para te oferecer…

Oferecia-te um novo dia…

Em vez de palavras

Ou de poesia.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

 

sinto-me só

capaz de enfiar uma bala na cabeça

sinto-me só

neste labirinto sem sentido

dentro desta equação não resolúvel

e tão fria

como a água da ribeira

ou a luz do dia

 

sinto-me só

a cada manhã acordado

acordo muito cedo, muito cansado

muito teimosamente arrependido

de ter acordado,

muito só

dentro deste labirinto sem sentido

 

sinto-me só

só sem ninguém

e nem uma alma penada

poisa na minha mão

e me diga

o quanto eu estou enganado

o quanto por mim sofre a madrugada

 

muito só neste silêncio enforcado

sinto-me só

muito só nesta ruela sem saída

nesta ruela sem casas

sem crianças a brincar

sem papagaios em papel

só,

muito só.

em frente ao mar…