Tristeza
É acordar
E não ter pão,
É ter o mar na mão
E na mão não ter o mar,
Tristeza
É acordar
E sentir um vazia no coração,
É gritar e dizer NÃO
É NÃO e não ter pão,
Tristeza
É acordar
É não ter pão nem ter o mar
10/01/2024
Tristeza
É acordar
E não ter pão,
É ter o mar na mão
E na mão não ter o mar,
Tristeza
É acordar
E sentir um vazia no coração,
É gritar e dizer NÃO
É NÃO e não ter pão,
Tristeza
É acordar
É não ter pão nem ter o mar
10/01/2024
Brevemente é noite
O meu corpo fica frio
A minha voz
Fica silenciada
À janela
E da minha janela
Nada
Nada tenho para ver
Brevemente é noite
Brevemente é sombra
O corpo tomba
Na luz apagada
No chão invisível
É quase noite
Em mim
No meu corpo
Nas minhas mãos
Nos meus olhos
É quase
Tão quase como o meu jardim morrer de
ataque cardíaco
Como das minhas mãos nascer o poema mais
parvo
De todos os poemas parvos que escrevi
(todos os meus poemas são parvos)
A noite não
A noite não é parva
A noite nunca é parva
A noite é uma prostituta
Em busca de dinheiro
Deixando o prazer no cacifo do desejo
E eu aqui
Quando brevemente é noite
Quando o meu corpo fica frio
Quando a minha voz fica silenciada
Quando os cigarros me acordam
Quando é brevemente
Noite escura
Noite
10/01/2024
Escura, tão escura a tua voz
Quando se aproxima de mim,
Tão curvilínea a tua voz,
Minha querida,
Como se fosse uma jarra com flores,
Duas mãos entrelaçadas,
Dois lábios envenenados
Na despedida.
Escura, meu amor,
Minha querida…
Tão triste é a tua voz,
Tão escura é a tua voz,
Tão de noite e tão de dia,
É a tua voz,
Que vive no meu jardim.
Escura, pedacinho de silêncio deste
oceano sem nome, deste monstro de mar, que há quem chame de saudade,
Tão triste a tua voz,
Tão escura, a tua voz de amêndoa ou de
criança mimada,
Montanha,
Ribeira,
Quando a tua voz se ergue a Deus,
E Deus, indiferente à tua voz,
Escura.
Escura, a tua voz,
Silêncio em mim porque acaba de acordar
a tarde,
Porque me apelidaram de Francisco,
O Rei do mar
O pedinte da Arte.
10/01/2024
Enquanto eu te sonho
Morre uma estrela
Vai um foguetão à lua
Aparece um novo rio
Que às vezes não corre para o mar,
Enquanto eu te sonho
A noite é escura
Todas as estrelas do céu
Morreram
De tanto eu te sonhar.
10/01/2024
Cada vez mais escuro
Este labirinto de viver
Neste silêncio de espasmos
Acorda o dia pensando ser a noite
Quando a noite não é o dia
Nem o poema.
Cada vez mais escuro
O dia
Cada vez mais profundo
O labirinto
Cada vez mais distante
A poesia.
Cada vez mais escuro
Este labirinto de pensar
Cada vez mais nada
Cada vez mais ensanguentada
A madrugada
E o mar.
10/01/2024
Já tenho tabaco
Não posso afirmar que não
tenho casa, porque já tenho casa
E tenho o resto do dia
E tenho a poesia do Eugénio
para ler
Tenho fogueira
Tenho pão
Tenho queijo
Para me esquecer
Que sou poeta
Meu querido
Tão longe estás de mim
Tu e os teus navios
A olharem a cidade
E a cidade
Indiferente para vocês
E a cidade
Sempre foi indiferente para
mim
Meu querido mar
Aquele mar que deixei
sobre as pedras
E sobre o olhar
Da minha infância
Quando o destino…
Ainda se apelidava de
destino
Quando o destino hoje
Já não é um menino
O destino hoje é um homem
enforcado na ausência
Quando a noite arrasta
para os seus braços
Todo o tipo de sucata
Todo o tipo de homens
Como eu
Como tu
Meu querido mar
Como tu
Assobia o rapaz na ida
para a escola
No regresso
Pede esmola
E um pedacinho de
paciência
Para continuar vivo
Vivendo dentro de um triciclo
de sono
Ante que a lua desça
E roube o triciclo
E roube o sono
Felizmente já tenho
tabaco
Já tenho casa
Poesia
E o resto do dia
Felizmente
Meu querido mar…
Felizmente que tenho o
Eugénio para ler
E mãos
Meu querido
E mãos para escrever.
09/01/2024
Meu
querido,
Mais
um dia, mais um dia igual ao de ontem, que por sua vez vai ser igual ao de
hoje,
Um
amanhã previsível, constante, correndo em linha recta até, quem sabe, ao
infinito.
Acreditas
no infinito, meu querido?
Dizem
que é tão grande…!
E
que tem tanto poder como esta fogueira, que arde à minha frente, e que às vezes
a olho, e penso
Penso
no suicídio. No meu não, isso nunca.
Penso
naqueles que o fazem, porque o fazem, o que os leva a deixar tudo, tudo, a
troco de quê?
Penso
na pistola que dispara, e penso o que pensará a pistola, antes de disparar e
depois de toda a massa encefálica alimentar a parede da cozinha. Penso muito, nisso,
meu querido.
E
que coragem, estes gajos têm…
Mais
um dia, acabou o tabaco, não tenho casa, e apenas sou guardião de
aproximadamente 7 a 8 mil livros; tenho livros desde a engenharia até à poesia
Poesia,
poesia, poesia
Uma
casa sem poesia, é uma tristeza.
É
como uma mulher sem sorriso.
Daqui
a pouco é noite, e aí sim, é quando eu me pergunto qual é a minha finalidade,
aqui na terra.
O
que vim cá fazer?
Escrever
parvoíces?
Desenhar
porcarias?
Se
a única finalidade do homem é continuar a espécie e superar problemas a cada
dia que passa. Felizmente só fui atingido pela segunda,
E
depois,
Contar
o número de rotações em volta de um eixo imaginário.
09/01/2024