terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Carta ao mar

 

Meu querido,

 

Mais um dia, mais um dia igual ao de ontem, que por sua vez vai ser igual ao de hoje,

Um amanhã previsível, constante, correndo em linha recta até, quem sabe, ao infinito.

Acreditas no infinito, meu querido?

Dizem que é tão grande…!

E que tem tanto poder como esta fogueira, que arde à minha frente, e que às vezes a olho, e penso

Penso no suicídio. No meu não, isso nunca.

Penso naqueles que o fazem, porque o fazem, o que os leva a deixar tudo, tudo, a troco de quê?

Penso na pistola que dispara, e penso o que pensará a pistola, antes de disparar e depois de toda a massa encefálica alimentar a parede da cozinha. Penso muito, nisso, meu querido.

E que coragem, estes gajos têm…

 

Mais um dia, acabou o tabaco, não tenho casa, e apenas sou guardião de aproximadamente 7 a 8 mil livros; tenho livros desde a engenharia até à poesia

Poesia, poesia, poesia

Uma casa sem poesia, é uma tristeza.

É como uma mulher sem sorriso.

 

Daqui a pouco é noite, e aí sim, é quando eu me pergunto qual é a minha finalidade, aqui na terra.

O que vim cá fazer?

Escrever parvoíces?

Desenhar porcarias?

 

Se a única finalidade do homem é continuar a espécie e superar problemas a cada dia que passa. Felizmente só fui atingido pela segunda,

E depois,

Contar o número de rotações em volta de um eixo imaginário.

 

 

09/01/2024

Sem comentários:

Enviar um comentário