terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O fim das minhas palavras


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Sento-me
Cruzo os braços
E espero que o tempo se alimente do meu corpo
E quando chegar a noite

E quando chegar a noite
Uma finíssima folha de poeira se alicerce nos meus olhos
E todas as minhas palavras

E todas as minhas palavras cessem
E todas as minhas palavras morram
Na garganta do poema
Crucificadas nas mãos de um texto ficcionado
E toda a minha vida
Um número de circo sem sentido

Sento-me
Cruzo os braços

E dou-me conta que morri

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

Metade de mim


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Metade de mim
Morta pela tempestade
A outra metade
Pendurada na parede de um quarto

Sem janelas
Para o mar,

Metade de mim
Carne podre
Pedacinhos de cartão amordaçados
No sangue da noite,

Metade de mim
Morta pela tempestade
A outra metade
Pendurada na parede de um quarto

Sem estrelas
Sem luz
Sem janelas
Para o mar,

Metade de mim…

À procura do cadáver
Da metade morta pela tempestade
Porque à metade pendurada na parede de um quarto
Falta-lhe a metade
A vontade
A saudade

À metade de mim
Sem vista para o mar

Sem janelas para o corredor
Depois de subir as escadas e alcançar a claraboia
Onde metade da metade de mim
Dorme abraçada a uma gaivota

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

E vem a noite


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

E vem a noite
E come-me os olhos e os braços
E come-me o coração,

E transformo-me numa tela negra
Semeada de lágrimas
E estrelas,

E vem a noite,

E tudo o que me pertence
Incluindo eu
Finíssimos grãos de poeira gatinhando no corredor
À procura de uma porta de saída,

À procura do dia.