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sábado, 20 de dezembro de 2014

Tortura

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O peso do sono quando a noite se suicida no olhar das palavras,
a metáfora inventada
que as imagens alicerçam à construção da fantasia,
regressar... nunca,
o peso do sono suspenso nos oiros plátanos da ínfima melancolia,
o sono morre como morrem as ervas daninhas das minhas veias,
em silêncio,
o peso do sono voando sobre as esplanadas de vidro,
o cansaço das fotografias entre quatro paredes de xisto,
cintilam as calamidades do infinito orgasmo de papel...
e ninguém percebe que na tua mão...
que na tua mão habitam os finíssimos cabelos do poema,
o corpo vacila no pêndulo da saudade como um círculo de luz,
esquecido nas masmorras da infância,
o peso do sono mensurável nas avenidas acabadas de projectar,
sem automóveis para conversar,
pessoas,
sombras...
casas em sonolência despedida,
eu,
transeunte iluminado pelos vapores de iodo,
mergulhado em vulcões de alegria
e... e alguns pedaços de fogo,
e o peso do sono em constante tortura... quando me visto de noite inseminada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 20 de Dezembro de 2014