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terça-feira, 12 de março de 2013

Os horrores da dona Vírgula

Galgavas os travessões inclinados do texto, mudavas de linha, colocavas uma vírgula aqui, outra ali, e mais outra acolá, e ainda outra
Para aquela senhora de encarnado,
Três por um, tudo a cinco euros ouvíamos do megafone da cigana com seios de prata transparentes quando quase no final do texto aparece um ponto de interrogação, o autor, atormentado e sem saber onde o colocar
Grita,
E a cigana, por apenas dez euros, juro pelos meus dois olhinhos que a terra há-de comer que as peúgas são de pura lã virgem, calçam-se a primeira vez, depois decrescem até chegarem a zero, isto quando o limite do seno de X sobre X é um quando o X tende para zero, a cigana embaraçada, não deseja saber, ela recusa-se a perceber os limites dos terrenos baldios, onde cabras soltas caminham sobre os pontos de exclamação que o parvalhão do autor deste texto coloca,
Grita!
E as cabras saltitam, saltitam como cordéis de Inverno no pescoço da querida Maria Torrão de Azeméis, mulher de peito longo, cabelos à tangente de três quartos de pi radianos, e ao pescoço, sem qualquer pontuação, uma frase invertida, sem nexo, suspensa numa árvore, haviam três agulhas e um dedal, haviam nuvens esféricas que assustavam a pobrezinha da cigana às voltas com a trigonometria, e haviam
Cabras? Não, ovelhas com pintinhas amarelas, vespas com asas de milho e
Ponto de interrogação? Não,
Final, ponto, intermitente como as luzes dos barcos de papel que ela deixou nas almofadas dos sofás de granito, encardidos com a tempestade de areia, depois do solstício de Inverno se suicidar contra uma locomotiva desgovernada em passos apressados entre dois carris paralelo à espera do infinito para se encontrarem,
A cigana, coitadinha, pobrezinha
Ai minhas caabrinhaaas,
E a saudosa dona Maria Torrão de Azeméis gritava
Quero lá saber das ovelhas,
Precisa-se de uma palavra começada por T e terminada em I, a cigana desconfiava do vigarista Miguel Hoje Sem Casa, apenas sabia contar até cinco e que às vezes a vida dele parecia um hipercubo, como a minha, respondia-lhe eu,
(Trabalhadori)
O cabrão acertou, cabrão dum raio, pelintra, como eu, entalado nos carris, de um lado a puta das cabras, e do outros, os cabrões das ovelhas, não,
De um lado os cabrões das cabras e do outro a puta das ovelhas, também não,
E se o limite quando o X tende para mais infinito de seno de X sobre X? Coitada da cigana, e coitado de mim, miserável de profissão, analfabeto complexo, iletrado, e ainda por cima
Mordomo da senhora dona Maria Torrão de Azeméis, senhora distintíssima com porcelanas nas orelhas e proprietária do Grandioso Cabaré da Escova de Dentes, onde artistas conceituadas e conceituados voam entre pilares de sémen e papagaios de papel..., nunca tive medo de tropeçar nos parêntesis rectos, curvos, e linearmente gosto dos hipercubos, porque são complexos, porque me recordam madrugadas sem dormir a imaginar como construí-lo sem recorrer a sofisticados sistemas computacionais, e via-o, e sentia-o, dentro da minha empobrecida cabeça com migalhas de pão de milho que a tia Clementina fazia nas férias em Carvalhais, uma delícia perdida, como tantas outras, como algumas palavras que ficaram na latrina do quinteiro, ao longe um rato com tracção às quatro patas subia regaladamente a montanha do sono, e quando chegava à esplanada das nuvens curvilíneas,
Sentava-se,
Ouviam-se-lhe
O quê?
As faces do hipercubo agachadas no milho húmido das manhãs despidas de pontuação, de palavras, de literatura e poesia, e depois de todos morrerem,
O quê?
Ela ainda teve coragem de pegar no megafone e sibilar
Cabrões que me roubaram os sonhos,
E juro, juro
Vi-os, vi-os nas castanhas bancas de madeira.
(FICÇÃO NÃO REVISTO)
P.S.
Se há quem não gosta do que escrevo, paciência. Se há quem se incomoda com algumas fotografias que eu publico no meu mural (que confesso, não é com a intenção de ofender ninguém e considero-as arte, paciência. E já agora, não obrigo, nunca obriguei, seja quem for, a ser meu amigo; no Facebook ou na vida real. E como diz o nosso querido povo... Quem não está bem que se mude. A porta de entrada é a serventia da casa. (UMA COISA POSSO GARANTIR; OS DESTAQUES DO MEU BLOGUE CACHIMBO DE ÁGUA, QUASE DIARIAMENTE NO SAPO ANGOLA, NÃO SÃO, E NUNCA FORAM, POR CUNHA OU POR PEDIDOS, MAS SIM, E SEMPRE, POR MÉRITO PRÓPRIO). Os amigos que restarem são certamente os verdadeiros.
(NÃO FICÇÃO)
Galgavas os travessões inclinados do texto, mudavas de linha, colocavas uma vírgula aqui, outra ali, e mais outra acolá, e ainda outra
Para aquela senhora de encarnado, com sandálias às bolinhas e meias de chocolate, e mais um para o senhor do cachimbo com saudades a cigarros, outra
Tudo, perdi a cabeça, grita a cigana, tudo a um euro,
Uma para nós, gritam as cabrinhas amestradas...
E nós e nós e nós
Também o desejam, as ovelhas loucas com cristais de azoto na ponta da língua,
E mesmo assim, ainda sobraram algumas letras, alguns pontos, e umas tantas vírgulas, porra...
A vida está mesmo difícil; muito difícil.

(FICÇÃO NÃO REVISTO)
Francisco Luís Fontinha