foto de: A&M ART and Photos
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há uma ordem indefinida que habita no
centro do teu corpo
a tempestade preguiçosa dos barcos
encarnados abraçam-se a ti
e tu parecendo uma ardósia em fim de
tarde
escreves-te e alimentas os volantes e
êmbolos da tristeza
escreves-te e gaguejas as palavras
mortas que o vento transporta
como nuvens de poeira sobre a pele
húmida da paixão...
apaixonado sempre
sempre... como um vulcão entranhado na
montanha dos sonhos
trazes-me os cinzeiros com asas
voláteis depois dos desalojados cigarros partirem na tua mão
recordas-te do silêncio
e acreditas nas pedras quentes dos
telhados invisíveis da insónia
há uma ordem secreta dentro de ti que
não quer movimentar-se na roldana dos beijos cinzentos,
lembras-me as chuvas endiabradas das
sanzalas com telhados de cacimbo
eu chorava porque tinha acabado de
perder um simples papagaio de papel
tinha quatro cores
e... e um velho cordel
havia em ti uma ordem
que do centro do teu corpo ao meu olhar
perdia-se como se perderam todas as sombras do desejo
e despejados nós
continuamos a procurar marés de papel
das cartolinas suspensas nas paredes da velha escola
hoje
sei...
sei que há uma ordem embrenhada na
desordem
e as tuas vãs palavras vivem no caos
da solidão.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 30 de Dezembro de 2013