Sentia-me camuflado dentro deste orifício sem nome
Algumas vezes, não
muitas, oiço o som de um piano, oiço também
O estilhaçar de um vidro.
E o disparo de uma
espingarda de sono; dispara insónias
Contra as flores do
jardim.
Fugiram cinco gajos de
uma cadeia de alta segurança e imagino
Se a cadeia fosse de
baixa segurança,
Adiante, o poeta tem mais
que fazer, não fazer comentários a fugitivos.
E ainda bem que falo em fugitivos,
porque às vezes,
Eu mesmo, pareço um
fugitivo
Que foge,
Sem saber do que foge.
Que se esconde, sem saber
porque se esconde,
Quando se ergue a noite
sobre a seara do silêncio.
A loira espiga do desejo,
faz lembrar-me as minhas antigas sandálias de couro,
O que eu corria debaixo
das mangueiras, o triciclo cambaleando de sono, e algures,
O meu melhor amigo, o
chapelhudo.
O rio desiste da minha
algibeira, e vai para o mar.
Fui assistir ao concerto
de GNR, com a Cristina, apenas que foi divinal e adoramos,
Encontrei uma colega de
liceu que não via há mais de trinta anos, era muito boa a português e que hoje
é professora.
Viemos de Favaios, fomos
virar à ETAR, e é um cheiro a MERDA que não se aguenta. Senhores do Município
de Alijó, resolvam esta situação rapidamente.
Já não bastava a merda
que por aqui há, ainda mais
O cheiro intenso a MERDA
da ETAR de ALIJÓ.
Regresso aos teus braços,
e não sinto raiva, ou outra coisa qualquer. Regresso aos teus braços
E pareço aquele menino
cinzento, que vestia calções e calçava umas sandálias em couro; parece que
estou a ver o sorriso desse menino.
A mãe desse menino
parecia ela também uma menina, de vestido curtinho, subia à mangueira para
retirar o meu papagaio que tinha ficado preso. Parece que ainda oiço esse
sorriso… quando acorda o vento.
Talvez ainda faça amor
hoje, ou apenas ficar lá
A ouvir os batimentos do
outro.
Hoje não li. Há meses que
o não fazia, mas não encontro explicação.
Pincelo a noite com as
minhas mãos nos teus seios, mergulho no teu cabelo, oiço o som da tua pele, que
me deseja,
Tal como eu desejo o
poema, escrito na tua boca.
Beijo-te, abraço-te
acreditando que pertences às estrelas do solar,
Quando o meu corpo poisa sobre
o teu
Explode de sémen num cansaço
de prazer,
O escrever,
Na tua nádega,
Amo-te.
Podia já ser dia, podia.
E se não fosse a noite, o
que seria
Do dia,
Sem poesia.
O que seria de mim,
Sem ti,
Quando sinto na minha mão
O teu seio cansado
Pela distância de um
beijo.
Eu juro por deus, e eu
que não acredito em deus, juro que eu não queria escrever, não queria, mas
dentro de mim à uma explosão de palavras, de imagens,
De cores,
De ruas,
De lábios,
De corpos deitados numa
cama. Imagino o Al Berto a ser enrabado pelo amante,
E fico aqui sentado à
espera de que o rio, volte do mar,
Novamente
Para a minha algibeira.
Quase que não sei quem sou.
E podia ser tanta coisa,
Novamente o senhor Álvaro
de Campo na sua Tabacaria; e eu imagino-o à janela a ver o Esteves, que fuma.
Tirando isso, apenas que
o gato que detesto que pertence à minha vizinha,
Anda triste. Sinto-o
quando o olho como o sinto quando olho um amigo ou uma amiga,
Que quase,
Não tenho. Tive muitos e
muitas, mas hoje
Hoje, nada.
Uma e cinquenta. Lá fora há
estrelas. Olhei-as enquanto fumei um pequeno charro. Lembrei-me do Gomes; era
um tipo muito chato, mas eu gostava e gosto muito dele.
Mas a vida é assim. Os meus
melhores amigos, morreram.
Morreu o meu pai de
cancro. Quatro anos depois
Morreu a minha mãe,
Também ela
De cancro.
E eu vivo no medo,
Do cancro.
Não suporto a palavra. Nada.
Tenho medo.
É horrível ficar em
pedaços… e que voam nos braços da morfina.
(se me ouves, mãe, eu
estou bem. Acredita.)