Ter sorte
é morrer só. Só morrer.
Ter sorte é nascer a um domingo
e pertinho do mar.
Ter sorte é não ser amado, compreendido…
Ter sorte é não ter amigos.
Ter sorte é abraçar
todos os dias e todas as noites
a solidão do luar.
Ter sorte é estatelar-se contra os
rochedos
e nem um pedacinho sobrar
para uma história contar
Para uma história escrever.
Ter sorte é nascer
às sete e trinta da manhã, de um
fatídico domingo.
Ter sorte é ter no pulso um relógio de sol,
ter sorte, é morrer só num alegre vinte
e três de Janeiro em frente à baía de Luanda.
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