quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Serei apenas um pássaro perdido

 

Serei apenas um pássaro perdido dentro deste mar de cascalho, serei apenas o vento, ou palavra deixada ao acaso,

na mão do caos.

Serei apenas o memento da despedida, no abraço sentido depois da morte,

depois da partida.

 

Sou um homem sem sorte. Serei apenas um gato

nas mãos de uma criança,

assanhado e que lê poesia após o jantar

ou quando nasce o dia.

Serei apenas o sono nos teus olhos,

serei e sou, o apenas temido luar de verão

que quer ser papagaio de papel.

 

Serei um dia apenas

uma fotografia

da qual ninguém se irá recordar. Serei livro que se despede da fogueira,

serei apenas a lareira que se despede da noite,

serei apenas o poema…

Mas qual poema?

 

Serei apenas uma cama, um corpo despido, tão magro

como são magros os jardins sem flores,

serei apenas uma lâmina à procura de sangue, à procura

de uma mão.

Serei apenas uma pedra lançada contra a janela, serei apenas

o vidro incandescente na lágrima de uma calçada.

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