Sábado 23/11/2024 05:15 horas.
Se te pudesse inventar enquanto todo o universo se estatela contra o som da solidão, se te pudesse implodir o muro que nos separa,
Se te pudesse desenhar nas lágrimas da noite, se a pedra ainda pedra, se lança contra a luz,
e a luz nas mãos de uma janela, se te pudesse vestir de orvalho cansado, que voa sobre as sombras diurnas de um pequeno pássaro de noite, ou quem sabe voar sobre um triste telhado, onde às veze subo e me sento
se te pudesse acreditar que este mar ficará calmo, que este mar depois de tranquilo, lento nos teus braços
se te pudesse dizer o que sinto,
quase nada sentindo, quase nada tendo
se te pudesse
Se te pudesse e não pensasse
tanto,
se te pudesse escrever uma simples carta, mas nem o teu endereço tenho, tão pouco sei se tens número de polícia
se te pudesse sair apenas de onde me escondo, de onde grito
se te pudesse tocar no cabelo e apenas tocar…
como quando brincava com a minha mãe
Se te pudesse ler em voz alta Lobo Antunes, Al Berto, o Pacheco
e o Herberto
se te pudesse apenas sentir,
quando tudo aquilo que sinto,
é falso, é mentira
porque nada sinto,
se te pudesse que nada tenho, se te pudesse que nunca tive nada,
a não ser,
estrelas
Se te pudesse fumar os teus lábios,
e beber
a tua boca,
se te pudesse embriagar-me nos teus olhos, e nada
se te pudesse
podendo até dormir na rua, se te pudesse dar
a lua
e dar
o luar, se te pudesse
se te pudesse apenas inventar…
Se te pudesse amar, amando podendo
se te pudesse dizer ao vento que não acorde mais o teu cabelo
quando o teu cabelo
se te pudesse
estivesse
na minha mão
Se te pudesse acreditar novamente que o dia tem gente, se te pudesse erguer até ao céu
e provar que não estou
e que nunca estive louco
se te pudesse desenhar com a minha língua, e com a minha boca
a mais bela flor do universo,
no teu seio
se te pudesse render-me entregar-me ficar eternamente preso numa cela de cera com pequeninas grandes de luz
se te pudesse ser feliz
e
e fazer-te feliz
Se te pudesse mostrar a carta que recebi do senhor Luís Fontinha, que apenas me empresta o corpo
Para que eu
Se te pudesse tocar,
Amigo poeta,
Quem sou eu para te condenar,
Se apenas sou um corpo
Que semeia palavras nas mãos de uma lágrima.
Não. Não tenhas medo da solidão, não, não tenhas medo da prisão. Todos nós somos prisioneiro de qualquer coisa, até há quem seja prisioneiro de uma sombra apenas ou apenas de uma fotografia ou de uma memória ou do silêncio do dia. Ou de uma pessoa.
Não. Não tenhas medo do frio invisível que a noite te veste, quando a noite te procura, e tu pensas no mar, e se tu quiseres, podes sempre ter o mar dentro de ti, no teu peito.
Não. Não tenhas medo de sonhar e nunca, nunca tenhas medo de voar. Se tu o quiseres, se tu não tiveres medo, poderás sempre voar sobre a espuma mais bela da madrugada.
Se te pudesse ouvir a tua voz se anoite está fria se a noite está tão escura se a noite está tão só como às vezes
o dia
e vazia,
se te pudesse que me ajudasses,
mas de Ajuda
só conheci a calçada, (Belém)
Se te pudesse,
meu amor!
Sábado 23/11/2024 06:06 horas.
FIM
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