quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Oiço-te e não consigo ver-te

 

Procuro-te nas almofadas da noite

entre os lençóis do mar

oiço-te embrulhada nas ondas

a brincares com as minhas palavras...

oiço-te e não consigo ver-te

e não consigo tocar-te

porque o mar em revolta

à minha volta

roubou-me o sonho

e cerrou as janelas do meu pôr-do-sol

e até a lua deixou de brilhar

e as palavras com que brincas

aos poucos desaparecem antes de acordar a madrugada

tal como eu

um louco

suspenso entre as sandálias

e os calções de infância

um louco

tal como eu

que não consegue tocar-te

que não acredita no céu

um louco

tal como eu

às voltas com o caderno da solidão

onde escrevo

onde semeio as minhas lágrimas

e escondo

um louco

tal como eu

e escondo o meu coração

de titânio

de xisto

de argamassa

um coração estupidamente só

um coração

ao abandono

sem dono

sem destino

desde menino

sentado num banco de jardim

à tua espera

(oiço-te e não consigo ver-te

e não consigo tocar-te

porque o mar em revolta

à minha volta)

sem dono

sem destino

eu um louco

que não consegue tocar-te

sentado num banco de jardim

o meu coração

a escrever versos no caderno da solidão

assim

eu tão só

tão pouco

um louco

assim

assim entre os lençóis do mar

e as noites de inferno

onde te oiço

a vasculhar o meu caderno da solidão

onde escrevo

e semeio

os guindastes da vida...

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