Sabia que te escondias na
sombra de uma locomotiva louca
entre carris imaginários
e praias de incenso sobre
tingidas nuvens amarguradas
sabia e não fazia nada
deixava-te sombrear nas
planícies rebeldes da solidão,
Inconstante este amor que
os comboios deixam nos socalcos ao rio doirado
milagrosamente só como
sandálias de couro e pingos de espuma
e o mar transpirava
e quase me levava até à
pedra onde te sentavas
só como eu só nas
locomotivas loucas,
Sabia que te escondias...
louca
entre cartas invisíveis
nas palavras famintas
sabia-o e nada fazia para
te resgatar da ausência que a saudade constrói nos sorrisos de amendoeira
e olhava-te como uma
louca locomotiva em movimento
procurando sombras que o
rio Douro vomitava...
Tínhamos uma mala simples
com objectos simples com destinos diferentes
eu sabia que me
transportava para Sul
e tu
tu fingias
transportares-te para Sul obliquamente sabendo-o que irias para Norte
opostamente de mim como
uma serpente envenenada,
Hoje somos apenas dois
cadáveres de areia que o tempo
semeia sobre a água
salgada onde se escondem os teus seios de cereja
e brincam as tuas coxas
como livros em poesia depois de lidos relidos e transcritos
pela louca locomotiva
de uma imagem a
preto-e-branco...
Sem comentários:
Enviar um comentário