Havia no teu corpo
crisântemos de esperança
como madrugadas incolores
suspensas no estendal que esquecemos na varanda
procurávamos nas ruas os
candeeiros de chumbo
para fugirmos à fome da
cidade
e sabíamos que eles um
dia regressavam para ajustarem contas connosco,
Depois esquecemo-nos das
montanhas de azoto que nos invadiam
como moscas envenenadas
ou como cadáveres de gesso
pendurados por um fio
finíssimo de sémen na árvore do desespero
conversávamos com Deus e
era como se estivéssemos a falar com uma parede de aço
insensível e distante e
fria,
Chovia-mos das nuvens
emagrecidas em cidades de areia
e comíamos as imagens que
trouxemos de África
e as pequenas recordações
que só aparecem noite dentro
quando lá fora cessam as
músicas do desassossego
e cá dentro revoltam-se
as lágrimas de tristeza,
Um muro covarde arde
docemente na lareira da idiotice
como aconteceu com as
palavras do livro negro
com dentes de marfim
e cansei-me dos bons
costumes
da pontuação e de regras
de boa educação,
Sou um “filho da puta”
mal-educado
que vive num País
inventado
não sei se sou humano ou
em pedra torneada e ornamentada com flores selvagens
sou um “filho da puta”
cansado
de mendigar migalhas e
sonhar com viagens...
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