sábado, outubro 19, 2024

o chocolate Pôr-do-Sol

 

não sabes que o tempo mata

e a saudade vem

como a chuva depois da tempestade

como o vento velozmente nos teus lábios,

 

não

não sabes que

mata

o tempo

a saudade

a insónia

não sabes que da noite vêm as tuas mãos acariciar a minha face em migalhas de xisto

triste

vadia

perdidamente só como as árvores quando dormíamos na floresta dos sonhos

depois de fazermos amor

tínhamos a miudinha chuva onde nos embrulhávamos como lençóis de água salgada,

 

galgando muros

terrenos indomáveis

silêncios

amores

e barcos

fundeados na paixão fumegante dos cigarros invisíveis,

 

(não sabes que o tempo mata

e a saudade vem

como a chuva depois da tempestade

como o vento velozmente nos teus lábios)

 

Deitas-te sobre a areia vermelha

desenhas-me no chão húmido em finos traços de carvão

há em ti uma tela esbranquiçada

doente

falida

amada,

 

amas sei que amas

e sofres

porque sofres

porque és o mar

desenhas-me e deitas-te sobre a areia vermelha

iludes-te

e desiludes-me

como uma criança sem perceber que o Pôr-do-Sol é de chocolate...

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