sábado, outubro 19, 2024

O Castelo da Solidão

 

Inventava cavernas na tua garganta

percorria as entranhas rochosas da tua pele de cogumelo acabado de nascer

via na tua língua as migalhas de incenso

trazidas pela insónia

inventava barcos no teu púbis como os desenhos das gaivotas sobre os teus seios de silêncio

ao cair a noite sobre o Castelo da Solidão,

 

Inventava um divã seminu em busca de corpos crucificados pelo suor da noite

e das pedras as encarnadas palavras copiando veias e artérias dentro do medo

vinha até nós a escuridão dos areais cinzentos com plumas adormecidas

vinhas-me do espelho e dizias que eu parecia uma lanterna poisada sobre um pedaço de espuma

que o teu nobre corpo degolava como sílabas num texto embriagado

pela minha triste mão,

 

Sabias-me a neblina quando palmilhava o teu corpo com os meus lábios

escrevia meros poemas em poucas palavras de argamassa orvalhada

sentia-me entre dedos e marés

como ventos ciclónicos depois de partir o último comboio para o Castelo da Solidão

puxava o último cigarro

e agarrando o último suspiro... cerrava os olhos até adormecer eternamente só... dentro do teu peito...

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