sábado, outubro 19, 2024

O cais do desassossego

 

Debaixo do meu cadáver de carvão

anoitecem horários proibidos como sonâmbulos esqueletos de desejo

não propriamente desejando o que quer que seja... imaginando imagens supérfluas

e desconhecidas nas paragens do autocarro da carreira

não percebem eles que o vento quando regressa

é porque se desencontrou com as árvores e nuvens e noites inculcadas

como pernas e braços sobre a cama camuflada do silêncio pergaminho

que as gaivotas transportam para as cidades de vidro,

 

Debaixo de mim... a viagem até te encontrar de cócoras procurando o mar

e as rochas de murmúrios que a areia sabe esconder

desenho no teu corpo de silício as marés de Agosto

embrulhadas nas poucas lágrimas que as aranhas fazem disparar contra o muro da tristeza

porque sim digo-o sem perceber sabendo que lá fora existem mãos de cordas ao nylon

depois da tempestade aportar sobre o cais do desassossego

e um pequeno barco lança-se dos teus lábios

em pequenos suicídios adormecidos...

 

Ele morre

e tu desejas-me quando cai a noite sobre os tentáculos da dor

cresce em nós mais um dia em desespero

um dia pequeno que depois se alonga noite fora

eles

eles esquecem-se de apagar as luzes da melancolia

e enquanto haver sol e estrelas e lua

é impossível amar-te como os socalcos do Douro amam as sombras de seios em delírio,

 

Sentindo-se as poucas cinzentas árvores

debaixo do meu cadáver de carvão que o oceano vai consumindo

como um toxicodependente absorve as veias infelizes dos lírios

e dos cravos

e das grandes pérolas com sabor a morfina

que alimentam sonhos e ressacas das belas palavras

mergulhadas na poesia

sempre sem o saberes dos jardins insignificantes com bancos em madeira apodrecida...

Sem comentários:

Enviar um comentário