terça-feira, 15 de outubro de 2024

o amor envergonhado

 

imagino o amor envergonhado

aquele que procura nas palavras os abraços prometidos

o amor às vezes não desejado

que acontece como o granizo em plena tarde de Primavera

 

imagino e percebo

o desassossego dos olhos envenenados pela íris das sebentas

aos gemidos frios sonhos que inventavas

 

o amor

o raio do amor travestido e cansado

embrulhado num velho cobertor

entre palhas e silêncios

das janelas do abismo

os beijos

sem sentido

quando uma mão poisa sobre mim

sinto-a a argamassar-me como dentaduras em marfim

no meu pobre esqueleto de vidro

comendo-me ossos e sentimentos

e o amor zangado e perdido

 

o verdadeiro amor

de joelhos

junto ao mar

percebo das imagens reflectidas pelos espelhos do prazer

que zarpaste em direcção a uma ilha sem nome

idade

coração nem falar...

o amor

em ti

de ti

eu desejar

sonhar

 

o amor

fictício como lâminas de barbear

o amor sofrido sobre as árvores em flor

o amor...

aquele eterno amor

perdido numa calçada da Ajuda.

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