quarta-feira, 16 de outubro de 2024

O sótão das histórias sem palavras

 

As safiras em moedas de olhares

como os crisântemos em rubi que vivem nas árvores da saudade

inventaste-me como inventaste o vento numa tarde de cacimbo

com nuvens de porcelana

e azeitonas em conserva,

 

Eras conhecida como a raiz de pólen

de abelha em abelha

às flores dispersas pelos pedaços de pólvora seca

que incendiavam as lanternas invisíveis

dos pinheiros abandonados pelas aranhas de vidro,

 

Percebiam-se-lhes as dissolvidas manhãs de inferno

dentro de um cubo de chapa

zinco

como as pedras polidas pelas mãos da neblina

e desciam o rio as escadas de acesso à lua,

 

Comiam-se os homens e as mulheres

porque a fome de amar era tanta que o vento se transformava

em jangada

ou madrugada

húmida como os corpos de papel que voavam em volta do silêncio,

 

E tirando as safiras em moedas de olhares

nada

ninguém

como a vida de um esqueleto apaixonado

pelos ossos da vizinha amiga que vive no sótão das histórias sem palavras...

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