segunda-feira, 14 de outubro de 2024

não sei se me ouves

 

não sei se me ouves

nas cinzas clandestinas das tuas mãos

não sei se recordas os momentos que passamos

e as conversas que desperdiçamos à volta de um copo de qualquer coisa

fumamos muita merda

dormimos noites invisíveis sem percebermos que a noite era a noite

 

sem percebermos que o dia

que o dia era uma gaja cheira de manias

travestida...

uma gaja mendiga

 

porra... porque partes sem nada dizer

sem deixares sobre as planícies graníticas

as palavras

coisas

desenhos

abraços

nada

nada

partes...

partes como se esta merda de vida fosse uma viagem

um panfleto de heroína voando em direcção ao Sol

debaixo do mar

 

a tua dor

as tuas paixões confessadas em noites de embriaguez

flutuam

e vivem

e amam como amaram as primeiras letras da tua boca

 

não sei se me ouves

 

não sei se algum dia conseguirei olhar-te

não sabendo que a viagem que agora preparas

termina

não termina

 

não sei se me ouves

 

mas se me ouves...

que descanses em paz...

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