segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Na montanha dos lápis de cor

 

Voávamos entre as gaivotas assassinas

que todos os finais de tarde

acordavam

voávamos como livres-pensadores

sentados debaixo de um qualquer plátano que o tempo esqueceu em nós,

 

Havia um mar desenhado nas rochas que brincavam no teu peito cerâmico

e os barcos nossos que laçamos em viagens circulares

ouvíamo-los pacientemente chegando ao pôr-do-sol

que do teu corpo

aconchegava a maré dos vértices de luz,

 

Voávamos entre... assassinas

que das tuas mãos se erguiam quando encerravam o sol numa caixa de vidro

e os lábios oiro que construíam sorrisos nas margens do rio

voavam como nós

voávamos sobre as lápides como crânios selvagens vivendo na montanha dos lápis de cor,

 

Sem percebermos que éramos sibilantes palhaços de pedra

procurando as nuvens inventadas pelas loucas tardes tuas

que o prazer acorrentava nos teus finos braços de crisântemo envelhecido

voávamos

voávamos às viagens de cartão em redor de um pilar de areia,

 

Voávamos de mão dada entre gaivotas assassinas

e noites de literatura

esquecíamos as tardes de poesia e subíamos as escadas em caracol

que nos levavam até ao telhado silêncio da cidade das algas tuas coxas

e ficávamos... assim.… como hoje... à espera que terminasse o dia.

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