segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Mulher do mar

 

Cortas em fatias douradas a triste madrugada

corre em ti sonâmbula um rio nas linhas de aço do amanhecer

cortas as nuvens silvestres percebendo-se nelas as cansadas manhãs de solidão...

carnívoras palavras alimentam-se de ti

e em ti

comestíveis poemas sobre as velhas searas adormecidas,

 

Entranhas-te no meu peito fumegante em cinzas invisíveis dos cigarros vegetais

amar-te-ei como o mar que engole silêncios de velhos barcos enferrujados

inscritos em ti os últimos desejos da noite com sabor a ébano das montanhas de espuma

entranhas-te como a água salgada nas rochas da solidão...

e em ti

de ti... o sabor da tua língua procurando os milímetros quadrados dos meus braços,

 

Saborear-te ensanguentada de gemidos uivos e pequenas gotículas de suor

o odor embriagado dos teus seios que sobejaram das tempestades de areia

os vómitos das pequenas árvores abandonadas

sobre o oceano desencanto navegável...

não esqueço os desenhos em prata

que dos teus mamilos voam sobre a cidade do amor...

 

Desenhar-te como um rio vagabundo

indomável como eu correndo sobre as calçadas de granito sapateado...

sou como tu eu nu

invisível saborear-te em pedaços papel amarrotado com chocolate

desencanto desenhar-te não percorrendo com os meus dedos

o corpo teu que tu inventaste para mim...

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