quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Lábios de fim de tarde

 

Um vulcão de segredos absorve-te do laminado silêncio

das mortas palavras

que o amor dita enquanto lá fora gotas de orvalho

nascem e morrem

nos olhos da noite,

 

Procuro-te ensanguentado entre o fumo invisível do teu cigarro

quando ainda passavas horas a fumar

a ler

e a escrever

a amar-me como se ama uma mulher,

 

A brincar com todas as flores dos jardins da cidade

e te sentavas no cais a contar os barcos que entravam e saiam da barra

com ou sem

tanto faz o destino

ao homem antes de morrer,

 

Pedias torradas

chá

mais tarde vinha ter contigo um café

onde depois de mergulhares na cafeína incandescente das estrelas de sonhar...

adormecias loucamente nos meus braços finos,

 

Agrestes

de pele escura e límpida como as algas da madrugada

sentia-te dentro dos meus seios

como se fosses uma nuvem

ou uma esponja com lábios de fim de tarde no cais de Alcântara.

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