quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Lâmina da paixão em lábios minguados

 

Uma fina lâmina de aço vive no meu corpo

e voa dentro das minhas veias até chegar ao coração

até... consegui-lo transformar em vitrina mecânica numa loja de conveniência

vivo dentro de ti sabendo que as tuas tristes palavras

aquelas que tu não prenuncias

como eu me recuso a escrever quando te sinto presente na escuridão da noite

e oiço uma voz lânguida e trémula e moribunda...

que a morte traz e semeia na tua velha mão de centeio,

 

Uma mulata despede-se de mim sobre o cais das merendas

e entre poucas palavras

e entre longos beijos

escrevo-lhe nos seios o poema de ti sobre mim com alguns estilhaços de vidro

que alguém deixou adormecer sobre as pálpebras do orgasmo eterno auspício do sossego...

e eu permaneço intacto como os triângulos de tédio no jardim das orquídeas,

 

Vivo parecendo uma lâmina com aparências

a uma outra que dentro de mim escreve poemas no sangue de neblina

quando desce sobre os pequenos barcos de papel

vivo acreditando que os meus voos nocturnos sobre os cristais de iodo

servem-te de martírio consolo nas tardes de domingo

sei

que uma fina lâmina de aço

mastiga-se na tua boca de lábios minguados pela paixão do adeus...

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