quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Lábios de cereja

 

Trazias-me os solstícios dentro da boca em lábios de cereja

tão doce e bela

a cereja envenenada pelo silêncio de ti procurando pedaços de mar

em marés enroladas livremente no teu pulso acorrentado ao meu indesejado

coração de fina areia em pálpebras de cristal,

 

Sei que te transformas em luz

e te perdes nas imagens nocturnas das fotografias sem versos

quando te envio versos ao domicílio

esquecendo-me que vives em mim

não me pertencendo... porque voas como os pássaros e és de papel,

 

Apenas sinto o teu corpo na distância de um milímetro linear

ao fundo da calçada

o rio

e a destreza das tuas lâminas faciais com pergaminhos bolor

e uma flor passeia-se na palma da tua mão,

 

Beija-me como te imploro dos desenhos nas paredes invisíveis que dividem

os dias e os beijos infinitos

à janela de ti as coisas orgânicas transformadas em húmus beleza

que sobeja da tua pele derramada canção em pétala madrugada

poisava-te a mão se tu existisses em mim como eu existo de ti,

 

Trazias-me os... em lábios de cereja

sentavas-te no meu colo e pacientemente

afagava-te o loiro cabelo em pincéis de veludo

corrigindo rugas imaginárias da tua inexistente bronzeada caligrafia

sobre o teu seio socalco em círculos dentro do Tejo teu púbis...

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