segunda-feira, outubro 07, 2024

Ficcionado eu de ti marinheiro

 

Ficcionado eu na tua mão sideral em pedaços imaginários

de cristal e finos objectos de luz,

há uma lareira que se extinguiu dentro do teu peito de caverna inventada

pelas palavras de uma árvore perdida na montanha,

há ruas que nunca tiveram saída,

tu sabias,

e nelas continuaste a caminhar

como... se passeasses sobre o silêncio mar,

 

Ficcionado eu nos teus seios de pano

que serviram para embrulhar luares e noites de prazer,

há nessas mesmas ruas,

aquelas que nunca tiveram saída e tu caminhavas,

relógios de pulso e canções de amargo amor,

e tu sabias

que eu era uma simples sombra

como um copo moribundo na mão de uma mulher pintada de negro,

 

Eras a noite

e aparecias-me quando as luzes da insónia cessavam,

morriam,

eras a noite que sempre tive medo

e cobria-me com o cobertor cinzento...

para que não desses por mim,

ou descobrisses que o meu esqueleto em vez de ossos

tinha ficcionado uma pomba branca cansada de voar.

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