Esqueço abismos e
inglórias
acordo sabendo que
deixaste de me esperar no banco granítico
do jardim invisível
o nosso pequeno quarto
sobre as rochas viradas a Norte,
Esqueço palavras e sonhos
imagens
esqueço os sofrimentos
das nocturnas esplanadas que a escuridão engole
e transcreve para o muro
em betão que divide os nossos corpos separáveis hoje,
Acorrentados ontem
(lembras-te – querida
solidão de areia?)
como barcos prisioneiros
em pilares de sombra
e esperando que o luar
desça as escadas dos cais desassossegados,
Esqueço a ti
como as serpentes
envenenadas debaixo do divã
esqueço a ti embrulhada
no capim húmido dos lençóis da madrugada
e sei que deixaste de me
esperar,
E nunca mais te vi na
janela da manhã
como o fazias ontem
antes de ontem...
quando regressávamos dos
corredores de aço com sulcos finos em papel de parede,
Rosas em decomposição
corpos de poemas em
putrefacção não sabendo eles que deixaste de olhar o sol
e começaste a caminhar
mar adentro
como um paquete sem rumo,
Descendo calçadas de
vidro
versos cansados
palavras e palavras e
palavras
para quê?
Versos malvados
esqueço abismos e
inglórias
acordo sabendo que
deixaste de me esperar no banco granítico
do jardim invisível...
Tristes
estas noites quando os
relógios morrem
e o tempo cessa as suas
garras
no pescoço teu onde
dormem as gaivotas embriagadas.
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