quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A saliva púrpura das carícias invisíveis

 

Procuras-me nas pálpebras cinzentas húmidas da madrugada

como se eu fosse um livro de poemas

adormecido sobre a tua mesa-de-cabeceira ausente da claridade

os petroleiros atravessando o Tejo

fundeados no teu peito

a saliva púrpura das carícias invisíveis que teces nas folhas das árvores

quando gaguejas os gemidos das manhãs dos pássaros cansados

nas rosas perfume colorido,

 

Senti as magrezas ósseas das sombras

sem ti nos meus abraços de porcelana

ao longe as pedras da escrita

perpétuas nas sílabas infinitas que as coxas tuas escondem

quando a noite misturada com a lua

dorme docemente sem saber que na rua sem saída

saltitam lágrimas de choque

na borracha clandestina das gargantas dos oceanos de Belém,

 

As tuas cartas semeadas na planície das palavras

oiço a tua voz no transverso esforço do Outono

quando os socalcos imaginados por abelhas estonteantes

e em pequeníssimos voos rasantes

rasgam as nuvens cor de vinho

da tarde transfigurada no alimento desejado

das tão afamadas telas de pó de xisto e neblinas de oiro...

e cai a noite nos arcos de vidro da tristeza.

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