quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A preto e branco nas equações do amor...

 

Uma mulher de vidro poisou nas minhas palavras

sobre a secretária de madeira

invento-lhe história com fotografias a preto e branco

que trouxe de Angola

os barcos ainda vivem

e navegam entre paredes de limão

e o fumo dos cachimbos ensonados junto aos livros desassossegados

uma mulher

 

no meu álbum de fotografias

uma mulher que hoje é uma menina

e ontem

e ontem galopava no cavalo branco com sílabas de cetim

 

perdi-lhes o nome

olho-as e quase desconheço os lugares

e os cheiros

e todos os nomes do caderno preto

 

vejo o mar

e o mar parece um amontado de ruínas de cimento

vejo as árvores

e todas as árvores mortas nas janelas dos pássaros sem cabeça

perdidos no meu álbum de fotografias

vejo o mar

e todos os barcos são pedaços de madeira

dentro dos dias ensanguentados de insónia

e princípios de solidão

os calafrios da morte

a preto e branco

nas equações do amor...

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