Uma mulher de vidro
poisou nas minhas palavras
sobre a secretária de
madeira
invento-lhe história com
fotografias a preto e branco
que trouxe de Angola
os barcos ainda vivem
e navegam entre paredes
de limão
e o fumo dos cachimbos
ensonados junto aos livros desassossegados
uma mulher
no meu álbum de
fotografias
uma mulher que hoje é uma
menina
e ontem
e ontem galopava no
cavalo branco com sílabas de cetim
perdi-lhes o nome
olho-as e quase
desconheço os lugares
e os cheiros
e todos os nomes do
caderno preto
vejo o mar
e o mar parece um
amontado de ruínas de cimento
vejo as árvores
e todas as árvores mortas
nas janelas dos pássaros sem cabeça
perdidos no meu álbum de
fotografias
vejo o mar
e todos os barcos são
pedaços de madeira
dentro dos dias
ensanguentados de insónia
e princípios de solidão
os calafrios da morte
a preto e branco
nas equações do amor...
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