quinta-feira, 29 de agosto de 2024

 

O comandante deste navio só pode estar louco, quer levar-me deste inferno,

tenho medo, que ele me queira comer. Saciar-se com a minha triste, magreza.

Escrevo-te cartas. Envio-te, palavras.

O mais certo é elas não chegarem a ti, como sempre, em toda a minha vida,

Saltitei de endereço em endereço, e o mais preocupante, todos eles, endereços errados. A minha vida

é um endereço,

transverso, e errado.

Um perfeito dia, para mim, era beijar-te.

E esquecer o comandante deste navio.

 

Já pedi a deus e às estrelas e à noite, já pedi até à lua, um pouco mais de sossego, um pouco mais de alegria

mas cada dia

não é poesia,

cada dia é um tormento, é um tornado, que balança o teu cabelo loiro, sobre o mar.

Nunca falei contigo sobre o mar, tão pouco sei se gostas do mar, se gostas de livros, se gostas de poesia, se gostas de mim…

cinema!

Talvez, sim.

Talvez um dia

percebas que o comandante deste navio,

só pode estar louco.

 

E quer levar-me. E quer.

O que faço, meu Deus?

Vou?

Assassino o comandante?

E fico, com o navio, triste. Só. Perdido nos braços da maré mais linda do Oceano; tu.

O que faço?

Cintilam as pedras nos braços da manhã, e sempre que posso, faço-o, ler antes de sair de casa, um pequeno poema.

Talvez seja a minha oração. A cada dia sinto que o comandante deste navio me quer comer, alimentar-se da poesia que fui semeando ao longo dos anos.

 

Aqui. E ali.

E mesmo assim, sou acorrentado a uma sombra de giz. Tenho tanto medo, meu deus, tenho tanto medo, que o comandante deste navio me leve, e nunca mais

Veja os teus olhos na fimbria manhã.

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