segunda-feira, 29 de julho de 2024

 

alijó

29/07

solstício da tua ausência

 

desfaço-me em pequenos grãos de areia, miúda cânfora manhã, lá fora

um pássaro sente a tua ausência, mutua, para sempre

do sítio, lugar ou rua,

sem sentido.

mergulha a migalha de pão na sopa de palavras, e a ausência dos teus olhos são pedaços de lua, miseras madrugadas, loucas noites, à tua procura

 

quando a noite é um lençol de mar, sobre a tua pele branca em alegres geadas, a neve, na tua mão

derrete, nos meus lábios,

ódio e tudo o mais…

mesmo assim, não estou triste.

 

procuro em cada silêncio de cor o teu olhar, e uma parte de mim diz-me para te esquecer para sempre

a água transpira loiras moedas de desejo, uma árvore, sabe, que nunca mais te vou ver,

quando a manhã acordar. ficarei só; eu e os meus duzentos e seis ossos.

 

fui à janela e fui loucamente transportado para o mar, sentei-me na areia, desenhei o teu nome, olhei-o

e loucamente o risquei; ainda não satisfeito e acreditando que ainda restava algum pedacinho do teu nome, fui buscar um balde, enchi-o de água do mar, e lancei

toda a água sobre a sombra do teu nome.

agora, sei, que esqueci o teu nome. agora sei que esqueci o teu rosto, o teu sorriso, os teus olhos, os teus lábios,

agora,

agora sei que esqueci o teu loiro cabelo.

 

tal como esqueci

 

o nome da primavera.

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