sexta-feira, 15 de março de 2024

Noite


(arte digital - Francisco Luís Fontinha)

Sou um estranho que te olha, quando me estranho em frente a este espelho, quando cerro os olhos, e vejo-te envergonhada em busca das minhas palavras aleatórias.

Sou um estranho que chora.

Sou um estranho que te olha, que me rezem ao ouvido

amo-te,

depois que as cadeiras que o meu silêncio ilumina, absorvo-me se esta noite termina estrelada.

 

Mas não existem estrelas, hoje.

Porque me despeço deste desenho, deste arvoredo disfarçado de noite,

à janela,

me olho,

e te olho,

absorto,

invisível na dimensão do universo.

 

Despeço-me da janela

porque será que as árvores ainda dormem, quando os primeiros triângulos da madrugada,

vivem na tua mão,

e eu sou um estranho.

Estranhando que a minha sombra ainda me siga, para cada lugar que me desloque…

 

Dedico-me a despedir-me de um estranho, que sabendo eu desta imbecil madrugada que se avizinha,

eu me esconda dentro desta pedra de insónia.

A vida que eu espero, não tendo vida, nunca tive uma folha em papel onde escrevesse a minha vida,

Erguer-me desta pedra,

Onde me esqueço da estranheza, de eu ser um estranho que navega nos teus olhos.

 

 

(orgasmo literário) 

 

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