Pedra-vento, serra-lima a árvore que
corre para o mar
Pedra-peixe, alga mineral dentro de um
copo invisível
A montanha é só água
É só lama num caderno diário
Os poemas são flores
São pequenos charcos
São versos com cinco dedos
São mãos com oito pétalas de dor
Pedra-vento,
Pedra-peixe,
Beijo-flor.
A ponte que eu utilizava para atravessar
a rua
Está constipada
Está sentada junto à muralha
E hoje
Não trabalha
E hoje
Tem pequenas lágrimas de limalha.
O aço corre e o aço inventa o silêncio
O pico abraça-se ao rochedo
Que num grama de pobreza
Não é pássaro
Nem é flauta
Nem memorando
Para coisa alguma.
A pedra-vento lança o vento
E o vento é uma cápsula hermeticamente
fechada
Tem uma janela circular
Com o raio de vinte e cinco milímetros
E de área
Alguns estilhaços.
Pobres palhaços
Que ao pequeno-almoço comem migalhas de
sono
E bebem um pouco de cicuta,
E não morrem não
Porque um palhaço nunca morre de fome.
Ser útil ou não o ser
Ser pedra-vento,
Ser pedra-peixe,
Ser
Ser
Ser
Um violino de sono
Na sinfonia da insónia.
26/02/2024
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