segunda-feira, fevereiro 26, 2024

Pedra-vento

 

Pedra-vento, serra-lima a árvore que corre para o mar

Pedra-peixe, alga mineral dentro de um copo invisível

A montanha é só água

É só lama num caderno diário

Os poemas são flores

São pequenos charcos

São versos com cinco dedos

São mãos com oito pétalas de dor

Pedra-vento,

Pedra-peixe,

Beijo-flor.

 

A ponte que eu utilizava para atravessar a rua

Está constipada

Está sentada junto à muralha

E hoje

Não trabalha

E hoje

Tem pequenas lágrimas de limalha.

 

O aço corre e o aço inventa o silêncio

O pico abraça-se ao rochedo

Que num grama de pobreza

Não é pássaro

Nem é flauta

Nem memorando

Para coisa alguma.

 

A pedra-vento lança o vento

E o vento é uma cápsula hermeticamente fechada

Tem uma janela circular

Com o raio de vinte e cinco milímetros

E de área

Alguns estilhaços.

 

Pobres palhaços

Que ao pequeno-almoço comem migalhas de sono

E bebem um pouco de cicuta,

 

E não morrem não

Porque um palhaço nunca morre de fome.

 

Ser útil ou não o ser

Ser pedra-vento,

Ser pedra-peixe,

Ser

Ser

Ser

 

Um violino de sono

Na sinfonia da insónia.

 

 

26/02/2024

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