Cabisbaixo limão no
deserto rosto, imprimo esta luz de intensificado desejo, que nutre na aurora
boreal a mísera equação do sono,
pois claro que o dilúvio
é um pedaço de rocha que caminha pertinho do sol,
e o sono quer-se morno, como
as loiras marés.
No teu corpo abre-se a
janela que tens junto aos seios, dela vê-se o fuso horário e o barqueiro da
misericórdia e inventa na tua mão a palavra envidraçada.
Húmus sifilítico cansaço
que corre amadurecido junto às árvores,
o meu corpo é um farrapo
dessecado pelo vento, oiço o ranger do meu cabelo como se um homem-peixe se erguesse
de dentro de mim e se se alimentasse da minha boca.
Frio cinzento quando o
desgosto é um pequeno verme deitado ao sol.
Se a lua falasse poderia
indicar-me o caminho para o labirinto do teu cabelo,
vigiado pelo tempo.
Há quanto tempo corre
aqui este fio de água minotaurizada de beijo em beijo
Pelo silêncio.
Há quanto tempo navegam
estes pássaros no aquário vértice de uma gargalhada de insónia.
Começo a vomitar pedaços
do poema, começo a espirrar cânforas manhãs a olhar os teus olhos,
e não digas nunca que o
silêncio é de graça,
paga-se e apega-se,
como a preguiça de um
olhar.
Há quanto tempo o meu
amor cabisbaixo limão, coisa pouca alimentada por uma roda dentada construída de
sombras e de
Amanhã
Há quanto tempo o meu
amor limão consegue distinguir a paixão de um peixe-gato,
é a inteligência
artificial a masturbar-se nas coxas de um qualquer circuito eléctrico,
miserável pedaço de
enxada que pincela de oranos os teus lábios.
Madrugada esta que finge
ser a ausência.
Há quanto tempo um limão
é uma espingarda que voa sobre o mar,
há quanto tempo numa
simples partitura aparecem as torradas e os cafés enxaugados pelo primeiro
beijo infantil.
Há quanto tempo o meu
corpo é uma caverna, é um túnel pregado a duas peças de aço, chapa laminada, pintada
como uma abelha,
Há quanto tempo este
vidro me adormece,
com tempo
há quanto tempo, meu
limão cabisbaixo.
27/2/2024
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