quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Fio loiro

 

Primeiro era o fio loiro do teu cabelo

Depois veio o verbo e trouxe com ele a voz embargada

Depois o fio loiro do teu cabelo e a voz embargada

Semearam na alvorada

O trigo silêncio do desejo.

 

Primeiro era um pedacinho de papel

Depois escreveram nesse pedacinho de papel as lágrimas do luar

Primeiro era o vento

E agora é um cibo de mar

No meu pensamento.

 

Primeiro acreditar era um verbo transitivo indirecto

Depois o verbo é amar

Primeiro era a manhã que desenhava nas vidraças do silêncio

O silêncio das palavras

E hoje é o silêncio das palavras que esta a chorar.

 

Primeiro era a tela vestida de negro que não se cansava de gritar

Depois veio o triângulo azul e começou a terra a girar

Primeiro era o rio sentido nas mãos de uma criança

Agora é o frio

Nos lábios do poeta sem esperança.

 

Primeiro era o fio loiro do teu cabelo

Depois o fio loiro do teu cabelo escondeu-se no dia

Primeiro era a poesia

Era a derradeira sonolência da noite

Hoje é apenas a voz embargada no fio loiro do teu cabelo.

 

 

 

28/2/2024

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