sábado, 20 de janeiro de 2024

O reencontro

 

Cada vez que o meu pai ia ao IPO-Porto a uma consulta ou fazer um tratamento, eu comprava um livro e escrevia no final do dia tudo aquilo que tinha acontecido; como se fosse um diário interrompido no tempo.

Nos últimos anos tive medo de encontrar estes livros.

Hoje, enquanto colocava livros numa caixa, dei com dois desses livros.

Um de 27/01/2015 e outro de 23/06/2015.

A escavação de Andrei Platónov e o filho de mil homens de Valter Hugo Mãe, respectivamente.

 

IPO-Porto, 27/01/2015

 

 

Orvalho de ossos

 

Não te oiço

Olho os pássaros suspensos nas árvores

E imagino-te um poema em construção

Não te oiço

Mas sinto o ranger do teu corpo

Como um sino descontrolado

Triste…

Tão triste que não sei o significado da dor

Tão triste… que se aprisiona no silêncio de um longínquo corredor

Tens nos olhos a noite espetada e não existem estrelas nas tuas mãos…

Nem flores no teu sorriso

(…)

 

IPO-Porto, 23/06/2015

 

 

O pai está muito frágil. Só consegue andar em cadeira de rodas.

Tem anemia e começou a fazer tratamento.

Os últimos dias têm sido uma mistura de cansaço e de tristeza, mas hoje, no final da tarde parece-me que tem algumas melhoras…

 

- cadeirão 13;

- líquido vermelho;

- enfermeira muito simpática;

 

Talvez!

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