Da prisão
À da alma quando a vendes
ao diabo
Na prisão de ventre
Da prisão dos braços
E das palavras que
brincam nos teus braços,
A prisão sem pão
À prisão com pão
Tudo é prisão
Tudo
Tudo é uma prisão
Da prisão ao salário
Do salário às nuvens
A prisão do mar
Na prisão de um barco
Um barco preso no mar
Do mar sem salário,
A prisão da chuva
E do vento que transporta
a chuva
Depois temos a prisão da
lua
Do luar
E do corpo que dorme no
luar,
À prisão do corpo
Quando este corpo semeia
no teu peito
Uma prisão de silêncio
Numa prisão de desejo
E se o desejas
Prende-te ao desejo
Acorrenta-te às sombras
que a noite deixa nos seios dela,
A prisão vaginal das
manhãs sem poesia
À prisão do poema
Quando o poema
Dorme na tua cama
Dorme em cada dia,
E se a tua cama for um
livro
Um livro com um só poema
Um poema
Uma mão
Quando te masturbas na
madrugada,
Tudo
Tudo é uma prisão
Ou uma não prisão
De nada
Ou com tudo
Que a prisão aprisiona o
teu pensamento,
A prisão de uma lareira
Quando um pássaro vadio
canta à tua janela
E o pássaro sem pão
Pede-te que o libertes
Libertes da prisão
Na prisão deste mar,
A prisão dos teus mortos
Em uma prisão de
fotografias
Na prisão de um álbum
À prisão numa pequena
caixa de sapatos
Na prisão de uma lápide
Quando a lápide é uma
prisão
De quatro pedras graníticas
Sem sol
Sem nada;
Uma prisão enganada.
Alijó, 01/01/2023
Francisco Luís Fontinha
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