Não tive tempo
De mostrar-te como
crescem como brincam e amam
Os lírios do campo.
Não tive tempo
De ensinar-te as
primeiras letras
Os primeiros números
Não tive tempo
De fazermos os primeiros
rabiscos
Nas paredes de uma sala.
Não tive tempo
De levar-te a olhar os
barcos
De veres o mar
Não tive tempo
Para as tuas primeiras
brincadeiras
Não tive tempo
Para subir às árvores
E olharmos os pássaros e
os ninhos.
Não tive tempo
De ouvir-te as primeiras
palavras
Não tive tempo
De fazermos papagaios em
papel
E voarmos sobre a minha
aldeia.
Não tive tempo
De mostrar-te a minha
aldeia
O rio da minha aldeia.
Não tive tempo.
Hoje
Sou um homem sem tempo
Sentado numa cadeira sem
tempo
Que fuma e bebe e ouve
poesia sem tempo
E juntos
Eu e a cadeira
Esperamos que o tempo
Nos leve
Nos leve para um sítio
onde tenhamos tempo.
Alijó, 01/12/2022
Francisco Luís Fontinha
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