quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Sem tempo

 Não tive tempo

De mostrar-te como crescem como brincam e amam

Os lírios do campo.

Não tive tempo

De ensinar-te as primeiras letras

Os primeiros números

Não tive tempo

De fazermos os primeiros rabiscos

Nas paredes de uma sala.

 

Não tive tempo

De levar-te a olhar os barcos

De veres o mar

Não tive tempo

Para as tuas primeiras brincadeiras

Não tive tempo

Para subir às árvores

E olharmos os pássaros e os ninhos.

 

Não tive tempo

De ouvir-te as primeiras palavras

Não tive tempo

De fazermos papagaios em papel

E voarmos sobre a minha aldeia.

 

Não tive tempo

De mostrar-te a minha aldeia

O rio da minha aldeia.

 

Não tive tempo.

 

Hoje

Sou um homem sem tempo

Sentado numa cadeira sem tempo

Que fuma e bebe e ouve poesia sem tempo

E juntos

Eu e a cadeira

Esperamos que o tempo

Nos leve

Nos leve para um sítio onde tenhamos tempo.

 

 

 

 

Alijó, 01/12/2022

Francisco Luís Fontinha

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