sábado, 22 de outubro de 2022

O sémen enforcado

 Sento-me nesta cadeira rabugenta

E espero que a Nortada

Me leve,

Qualquer lugar, qualquer dia,

Todos os dias,

 

Sento-me nesta cadeira rabugenta

E acredito que das minhas palavras

Nascerão as primeiras chuvas da manhã,

Um poema

Ou uma simples lágrima.

 

Sento-me

E percebo que esta cadeira não me pertence,

Que esta cadeira em marfim

É a madrugada disfarçada de mendigo,

O mesmo mendigo que me visita todas as noites

 

E me pede cigarros

E me pede azeite para a candeia das almas.

Sento-me nesta cadeira rabugenta

Acreditando que a cidade arde

Na algibeira de um magala em apuros,

 

De espingarda nos lábios.

E desta cadeira rabugenta

Oiço os gemidos ossos

Sobre o peito da alvorada…

Quando já regressaram a mim todas as tempestades do sémen enforcado.

 

 

 

Alijó, 22/10/2022

Francisco Luís Fontinha

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