Quando acorda a madrugada
E poisa docemente no chão
A triste geada;
Levanta a mão
Sobre o amanhecer,
Como se fossem silêncios
de escrever,
Como se fossem palavras a
arder,
No corpo algemado
Ao sombreado
Erguer.
Quando acorda a madrugada,
Acreditando,
Tal como eu, na noite
encantada,
Da noite amedrontada,
Levantando
A mão sobre o amanhecer.
E que me sento sem o
saber,
Puxo uma cadeira
invisível, depois de puxar um leviano
Cigarro sem asas; oiço a
voz rouca do piano
Saltitando na sala
procurando o prazer.
Talvez o prazer
De ler.
Talvez o medo de viver,
Esta vida das palavras
amarguradas,
Esta vida dos livros poeirentos,
Talvez das tristes
madrugadas,
Acordem todos os sentimentos,
Talvez o prazer
De ler,
Talvez o prazer de nada
fazer.
Quando acorda a madrugada
E poisa docemente no chão
A triste geada;
E este alegre coração,
Voa sobre o mar agachado
na areia…
Talvez o prazer
De ler.
Talvez o prazer
De escrever.
Talvez seja tudo isto que
me chateia.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 09/12/2021
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