De
tudo estou farto,
Às
vezes, quando regressa timidamente o amanhecer, sinto as ruas sem saída desta
cidade envenenada pelo tempo esquecido na minha mão,
Um
livro desajeitado mergulha no olhar da tua presença, e ao longe, imagino as
clareiras em construção que se afundam nos rochedos teus seios…
As
noites são claras, as noites esperam-nos enquanto lá fora as gaivotas brincam
nas tuas livres coxas,
De
tudo estou farto,
Do
deserto teu nome, do silêncio a tua amargura vestida de nada, e sei que nos
trilhos da bênção existem sonolentas cabanas abandonadas,
Perdoa-me,
e de tudo estou farto,
Às
vezes, o nocturno vento inventando pálpebras de xisto, as janelas encaixadas no
embriagado molusco da morte, de tudo estou farto…
Do
corpo me afasto, do corpo me ausento saboreando a morte dos peixes sem nome,
como se fossem caixotes de madeira com cabeças de ternura suspensas na cama da
saudade,
De
tudo estou farto, meu amor…
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
22 de Abril de 2017
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