sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Falso espelho


Olho-te como se fosses um falso espelho
semeado no centro da cidade
olho-te e no teu silêncio há um poema embrulhado em tristeza
sofres
sofres sem dizeres nada
olho-te e não sei a cor do teu sorriso
se tens dores
se...
se preferes sentir o mar
como fazíamos no Mussulo
davas-me a mão e eu sonhava...
hoje... hoje sentes a minha mão e tu constróis lágrimas em papel...
lá fora dança o vento e tu voas como voam os suspiros invisíveis
geme uma árvore
ouve-se o rosnar fervoroso dos automóveis embalsamados
ouvem-se as migalhas de dor correndo montanha abaixo...
lá fora as minhas veias são cinza de cigarro
após cigarro
olho-te... olho-te e não me canso de te olhar
como nunca me cansei dos teus lamentos
olho-te e percebo como eram lindas as sanzalas de Luanda...
e os barcos acorrentados a braços de gesso
sofres
sofres sem dizeres nada...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 31 de Outubro de 2014

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