quarta-feira, 15 de maio de 2013

A lareira da poesia

foto: A&M ART and Photos

Um corpo arde da penumbra noite de literatura
e da lareira dos livros vêm as marés com espuma de sémen
que as nuvens de amianto transportam sobre os cofres nocturnos da insónia
há intensas fogueiras de incenso sobre o teu ventre adormecido
pelo cansaço vómito do prazer,

Acordas-te puxando as encostas montanhas de rochas em intranquilos momentos
e poeirentas mangueiras de planícies pintadas de amarelo com bolinhas azuis
pensavam que eram o céu
e apenas as vírgulas no final de um texto escrito por ti
quando ainda conseguias alimentar as labaredas do amor,

Ardias por dentro
e fingias habitar como cubos de gelo
num copo de uísque sobre uma mesa redonda com pernas de aço
e dizias-te filha eterna do sono
e ardias nos meus braços de mogno importado do além...

Um corpo o teu corpo em mim semeado
ardemos os dois corpos dentro de um amontoado chiqueiro de cobras com lâmpadas de iodo...
havíamos de descobrir o medo
havíamos de descobrir o amor proibido e peneirento
do peneireiro de asas abertas com destinos infantis e sons de orangotango em cio,

O rio e a cidade dos corpos que ardem
em ti
de mim sabendo que amanhã deixarei de ter palavras para escrever
e muitos deles
felizes por saberem que amanhã... eu e tu... somos cinzas esquecidas na lareira da poesia...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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