Pensava que a erva era uma sopa
concentrada
alimento respeitado para a alma
pensava eu
que a dita madrugada
não chegava
e mesmo assim
chegou
regressou do longínquo jardim
só e abandonada
como as estrelas do céu
de sal em pitada
na mão madrasta que o vento levou,
Pensava que a erva se fumava
e eu fumei-a como sílabas descarnadas
pensava que da sopa apareciam
bailarinas desesperadas
como as mortalhas do mordomo
e os tripés de arame com pernas de
navalhas
mas a erva não bateu e o mordomo
chorava
deitado nas loiças palhas
pensava eu antes do sono,
Pensava eu pensava
quando olhava para o espelho traidor
sem perceber que o doutor
comia a erva e fumava ovelhas
cagava abelhas
e bebia mel
com pedacinhos de papel
e fumava luzinhas fumava.
(não revisto)
Francisco Luís Fontinha
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