E eu acreditava que dormia num quatro, onde vivia
uma cama, onde viviam duas mesas-de-cabeceira, onde viviam dois
tapetes, e uma cadeira, e eu acreditava que dormias sobre mim sabendo
que no teu peito tinhas a minha árvore, deixei de gostar de
Psicólogos,
Apaixonado
De psiquiatras mais parecendo aviões a jacto
poisados na pista do corredor de uma enfermaria, do lado esquerdo
Portas,
Do lado direito
Portas,
Ao fundo bem lá no fim da pista as afamadas casas
de banho, não esquecendo os hangares e a parte reservada às
oficinas, em cima
Portas e janelas,
Psicólogos
Do lado direito,
Tu
Árvores sem folhas, papel de parede encharcado em
melancia e crucifixos prateados, que mais tarde
Vendi na feira da ladra,
Que mais tarde vestia-me levemente sobre o soalho
amordaçado do quarto mais parecendo um presídio do que um
verdadeiro quarto, e eu perguntava-te Tens a certeza que esta
espelunca é um quarto
Sim claro
Apaixonado, chegava lá, estendia no chão
paralelepípedo frio da manhã as faces ocultas das chapas zincadas
da banca que servia de venda, sobre ela, um tecido encarnado com
bolinhas brancas e de onde a onde furos para a refrigeração do
mecanismo que tinha como única finalidade a venda de
Crucifixos prateados e papel de parede encharcado em
melancia, e tu
Portas,
Do lado direito
Portas,
Ao fundo bem lá no fim da pista as afamadas casas
de banho, não esquecendo os hangares e a parte reservada às
oficinas, em cima
Portas e janelas,
Psicólogos
Do lado direito,
Tu
De psiquiatras percebo eu, suspendia-me no tecto de
de cabeça para baixo caminhava incessantemente, dia e noite, e nunca
me cansava, só, só quando me ordenavam para descer e me davam as
drageias azuis, eu, tu
Adormecias com uma árvore desenhada numa folha de
papel junto ao teu peito, e imaginavas ter deixado o mar do outro
lado do jardim, ouviam-se as grades forjadas quando o vento as
acariciava e o som da paixão aparecia junto ao cortinado, e eu, tu
Faltam-te as folhas,
Verdes, a Primavera, em círculos na folha de papel
que me entregaste para o maldito exercício, desenhei-a, e tu, e
você,
Apaixonado.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
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